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(62) 3086-5000Por Pablo Kossa
O compositor Chico César se apresentou ontem (dia 19 de junho) em Goiânia, no projeto Música no Campus, no Centro de Cultura e Eventos Professor Ricardo Freua Bufáiçal da Universidade Federal de Goiás (UFG) no Itatiaia. O animado público presente percebeu que a terra do reggae tem muito mais a ver com o Nordeste brasileiro do que avalia o senso comum. A figura ímpar de César mostrou como fazer uma bela conexão Jamaica – Cariri, Kingston – João Pessoa, Trenchtown – Praia do Jacaré, reggae – forró, Bob Marley – Luiz Gonzaga.
O paraibano faz world music sem a conotação esquálida que os gringos usualmente imprimem à definição. César entende o reggae e o dub jaimacanos sob a perspectiva nordestina, devolvendo um som que estabelece interessantes pontes estéticas entre os dois universos. As relações entre o país das cabeleiras dread e a região do Brasil onde o chapéu de couro é moda popular ficam incrivelmente saborosas nas mãos do compositor. É world music pois a cabeça está no mundo e o coração na terra natal. A Paraíba embaixo dos pés e a mente na imensidão.
O atual Secretário de Cultura da Paraíba é acompanhado no palco por mais quatro músicos (baixo, bateria, percussão e sanfona). O protagonista fica responsável pelos vocais e violão/guitarra. E dá para perceber o quanto César é um exímio instrumentista, não se intimidando nos solos e em harmonias complexas. O show começou no timbre do reggae, com as pessoas que estavam no espaço externo curtindo uma cervejinha adentrando rapidamente o salão. Na releitura de suas músicas para o ritmo jamaicano, ele aproveita para emendar algumas músicas na mesma batida, imprimindo uma sequência sonora que não deixa o público esfriar.
As homenagens são fartas ao longo do show. Geraldo Vandré, Roberto Carlos, Ronnie Von e Luiz Gonzaga são justamente reverenciados e cantados com entusiasmo pela plateia. Se a história começa na enfumaçada dupla reggae/dub, o meio de campo é feito pelo hit do barzinho A prosa impúrpura do Caicó só na voz e violão e o show termina no forró desembestado que colocou o empolgado público (que poderia ter sido bem maior para um show desse porte) na dança geral. Tinha gente dançando quadrilha, tinha gente dançando sozinho, tinha gente pulando, tinha casal de todas orientações sexuais dançando forró – afinal, universidade não é lugar de preconceito de nenhuma espécie.
O projeto Música no Campus, protagonizado pela UFG e com os importantes apoios da Consciente Construtura e Sesc Goiás, cumpriu sua função social na última terça-feira com maestria: trouxe à Goiânia um espetáculo de qualidade digno da tradição da música brasileira, cobrou um ingresso super popular e abriu as portas da universidade à sociedade. Não tenho dúvidas que este é o projeto de extensão de maior repercussão pública da instituição. E não tenho dúvidas que UFG, Consciente, Sesc e Goiânia ganham muito com a ideia.
Na saída, dava para ver as gostas de suor que escorriam no rosto do público com os pés cansados de tanto dançar e um inquestionável sorriso de satisfação estampado na face. Certeza que a festa foi boa!
Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG